O mundo possui na atualidade mais 7 bilhões de pessoas, das quais, estima-se que mais de 850 milhões passem por situação de insegurança alimentar (ONU, 2012).
Entende-se por insegurança alimentar todas as situações que coloquem em risco o direito de cada indivíduo em ter acesso a uma alimentação de qualidade, de modo regular, permanente e em quantidade suficiente (CONSEA, 2007; Pimentel e colaboradores, 2009).
Ou seja, fome, sub e desnutrição, dificuldade em ter acesso a alimentos de qualidade etc., exemplificam situações de insegurança alimentar.
Neste sentido, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em inglês Food and Agriculture Organization) estima que cerca de 795 milhões de pessoas passem fome na atualidade (FAO, 2015).
Isto significa 1 em cada 9 pessoas! (FAO, 2015)
Redução da fome no mundo
Embora tenhamos progredido na redução da fome em todo mundo (de acordo com a FAO, nos últimos 20 anos conseguimos reduzir este índice em 25%), o desafio torna-se ainda maior para os próximos 40 anos, pois além da necessidade de alimentar um planeta com mais de 9 bilhões de pessoas, os esforços para a redução da insegurança alimentar deverão ser contínuos e progressivos (FAO, 2015; Pimentel e colaboradores; 2009).
Uma das maneiras mais acessíveis para que consigamos diminuir a situação de insegurança alimentar em toda sua extensão e com capacidade de uma mudança de alto impacto, é a redução do desperdício de alimentos.
Mas, de onde vem tanto desperdício de alimentos?
Antes de abordar os dados do desperdício é preciso que façamos uma análise da produção de alimentos.
Estima-se que são produzidos, anualmente, cerca de 4 bilhões de toneladas de alimentos (seja de origem vegetal ou animal), das quais pouco mais de 30% são desperdiçadas (o que significa cerca de 1,3 bilhões de toneladas!), seja no campo (devido à falta de boas práticas, transporte e armazenamento) seja no mercado consumidor, nas mãos de supermercados, varejistas, consumidores finais e estabelecimentos comerciais (ONU, 2012; FAO, 2015).
Além de comprometer o sistema alimentar, o desperdício traz uma série de prejuízos ao meio ambiente (sendo exigida a exploração de quantidades de recursos naturais cada vez maiores), à sociedade e financeiros.
Acredite, o custo anual de todo o alimento que é produzido e desperdiçado é equivalente à R$ 1,6 trilhões de reais o que corresponde a quase 30% do PIB brasileiro! (PIB significa “Produto Interno Bruto”, a soma de tudo o que é produzido pelo país em um ano, que no ano de 2015 somou R$ 5,9 trilhões) (Dados EBC Brasil, 2016).
O consumismo e o desperdício de alimentos
O desperdício de alimentos pode ocorrer no segmento do mercado consumidor de maneira consciente (ao desprezar alimentos fora do padrão estético exigido, mas que possuem a mesma quantidade de nutrientes dos que estão “dentro do padrão”), quanto de maneira silenciosa e quase imperceptível em nosso dia-a-dia.
Os ímpetos de consumismo (traços marcantes da nossa sociedade contemporânea) exercem influência no desperdício inconsciente.
Assim, podemos dar dois exemplos deste tipo de desperdício de alimentos que já se encontra arraigado em nossos hábitos: a aquisição de alimentos em grandes volumes (superior à capacidade de processamento e, às vezes, de armazenamento adequado) ou a aquisição fomentada por promoções, sendo que muitas vezes não necessitamos daqueles produtos.
Então, o que você pode fazer para mudar este paradigma no seu negócio ou domicílio?
Confira algumas dicas que separei para vocês.
1. Planejamento!
Planeje-se ao realizar a compra de alimentos. Neste momento, não seja movido pelo impulso de promoções, combos ou ímpetos em adquirir produtos diferenciados sem conhecê-los, por exemplo.
Observe em sua dispensa o que realmente é necessário e organize uma lista, o espaço que você possui para armazenar, o quanto você pode despender financeiramente e o tempo de espera que existe entre a compra e o processamento/consumo do alimento.
O planejamento é crucial ainda quando se trata de alimentos perecíveis, pois muitas vezes são adquiridos e descartados em sua totalidade.
2. Organização!
Organize a sua dispensa de alimentos pelo sistema FIFO (First In First Off, do inglês) ou seja, organize os alimentos de sua dispensa da forma recomendada pelo fabricante e por categoria por exemplo: farinhas, feijões, biscoitos etc. e, em cada categoria, organize-os por ordem de data de vencimento, ou seja, os alimentos que estão mais próximos do prazo de vencimento devem ficar à frente ou acima dos que apresentam maior prazo.
A um primeiro momento parece um tanto sistemático, mas acredite, funciona! Junto com o planejamento a organização de sua dispensa terá papel fundamental na diminuição de perdas de alimentos e financeiras!
3. Conheça os alimentos!
Uma das maneiras de reduzir o desperdício e diminuir o impacto financeiro da aquisição de alimentos é o consumo de alimentos de época.
Os alimentos de época ocorrem em maior abundância e possuem menores preços dos que o que não são de época.
Além disso, em alguns casos, podem apresentar-se mais saborosos e com teores de nutrientes ligeiramente superiores do que quando não são de época.
4. Observe a validade!
Ao fazer uma aquisição de alimentos não se detenha apenas aos preços, mas procure a validade dos produtos também.
Em muitos casos, promoções com descontos muito altos escondem um prazo de validade muito curto.
Além destas dicas, indicamos o acompanhamento e a inscrição na campanha “Mania de Desperdício”, que é organizada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o WWF-Brasil (do inglês, World Wildlife Fund) e a FAO.
Esta campanha está alinhada com ações que vem sendo realizadas em todo o mundo para combater o desperdício de alimentos.
Devido ao seu enfoque na interação dos consumidores em plataformas digitais, a campanha apresenta de maneira lúdica e muito acessível como os consumidores podem mudar suas (más) práticas ou condutas relativas à alimentação, aquisição, preparo e armazenamento de alimentos etc., ao propor o desafio “Uma Mania a Menos”, vale a pena participar!
O objetivo da campanha é estimular a redução do desperdício de alimentos ao mostrar à população o impacto desta conduta na redução de recursos financeiros, naturais e diminuição do impacto social da insegurança alimentar.
Com a redução do que é desperdiçado é possível equilibrar os recursos naturais, financeiros e alimentar no planeta e garantir a acessibilidade de alimentos de qualidade a todos os seres humanos.
Todos temos responsabilidade nesta questão.
Quando começaremos a fazer a nossa parte?
Colunista: Anna Flávia
Referências
CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (CONSEA). Documento base da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília: Consea, 2007.
EBC Brasil. IBGE: PIB fecha 2015 com queda de 3,8%. Notícia eletrônica de 03/03/2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-03/ibge-pib-fecha-2015-com-queda-de-38>. Acesso: 20/12/2016.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). #SemDesperdício: abrace esta causa. Publicação eletrônica de 03/11/2016. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/17754989/semdesperdicio-abrace-esta-causa>. Acesso em 09/11/2016.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO (FAO). Número de vítimas da fome cai para menos de 800 milhões: a erradicação é o próximo objetivo. Notícia eletrônica de 27/05/2015. Disponível em: <http://www.fao.org/news/story/pt/item/288582/icode/>. Acesso em 20/12/2016
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Fatos sobre a alimentação. Documento em versão eletrônica (junho/2012). Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/alimentacao.pdf>. Acesso em 09/12/2016.
PIMENTEL, P.G.; SICHIERI, R.; SALLES-COSTA, R. Insegurança alimentar, condições socioeconômicas e indicadores antropométricos em crianças da Região Metropolitana do Rio de Janeiro/Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 26, n. 2, p. 283-294, 2009.
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