A (boa) qualidade é um dos principais atributos inerentes aos produtos alimentícios.

Os consumidores brasileiros aprenderam a exigir, sobretudo, ao longo dos últimos 10 anos.

Mais do que uma tendência passageira, a pesquisa da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em parceria com o ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) intitulada “Brasil Food Trends 2020”  mostra que esta exigência é um dos pilares que caracteriza as principais demandas do consumidor brasileiro contemporâneo.

rastreabilidade

E vai além, exigir qualidade no setor de alimentos se figura como uma das principais tendências de consumo para o mercado brasileiro para o médio e longo prazo.

Apesar desta importante conquista e característica do mercado brasileiro atual, ainda vista como um diferencial (uma vez que a exigência estimula às empresas e as prestadoras de serviços no ramo agroalimentar), a exigência deste atributo já é (há muitos anos) uma premissa básica em muitos países Europeus, nos Estados Unidos da América e no Japão, por exemplo.

Quem exporta (ou pretende exportar) conhece esta realidade.

O que é boa Qualidade?

A (boa) qualidade não é um diferencial para o negócio, produto ou serviço.

A (boa) qualidade é essencial, uma característica indissociável do produto!

Particularmente, prefiro me referir a este atributo como boa qualidade.

Isto porque o termo qualidade pode ser definido como o grau, estágio ou propriedade constante que algo possua. Portanto, a qualidade pode ser positiva ou negativa.

Se extrapolarmos para o Universo alimentar, corresponde a um produto ou serviço que possua uma determinada propriedade constante, seja positiva (um produto bom) ou negativa (um produto ruim).

Assim, a boa qualidade define o que nós esperamos de um determinado alimento, bebida ou serviço prestado: propriedades positivas!

É exatamente este conceito que os consumidores europeus, norte-americanos e japoneses possuem arraigados em sua Legislação, em seus hábitos alimentares e como parte integrante da produção em indústrias de alimentos e bebidas.

Neste caso, os aspectos legais são mais visíveis de se exigir, controlar e regulamentar tendo em vista a sua objetividade (laudos técnicos, análises químicas, microbiológicas, toxicológicas, etc.), ao contrário do arcabouço social, cultural e psicológico que envolve o ato de alimentar.

Rastreabilidade de alimentos

Como parte integrante do ato de exigência da qualidade observa-se a rastreabilidade, um conceito que entrou na “moda” do vocabulário agroalimentar.

E mais, assim como a qualidade, veio para ficar!

A rastreabilidade pode ser definida como a competência que permite identificar as informações pertinentes a respeito de um produto ou serviço em todas as etapas que envolvem a sua produção ou realização.

Como no exemplo e definição anterior, tomemos por base o cenário alimentar: a rastreabilidade é uma ferramenta que possui a capacidade de identificar todas as informações e dados importantes de um determinado produto alimentício, desde a origem (no campo) até o elo final da cadeia agroalimentar, o consumidor final (no caso, eu e vocês). 

Ou seja, a rastreabilidade é uma ferramenta de gestão e controle da qualidade e que garante, em termos numéricos e de padronização, o que nós exigimos como a (boa) qualidade dos alimentos e bebidas.

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Além deste aspecto mais focado, a rastreabilidade revela um viés muito mais amplo ao trazer um saldo positivo em todos os segmentos da cadeia produtiva de alimentos, despertando a responsabilidade de todos os elos (incluindo os consumidores!) com a garantia da segurança alimentar .

Rastreabilidade do setor agroalimentar

A rastreabilidade do setor agroalimentar é garantida por meio de diversas ferramentas, como a certificação, por exemplo, que tem por objetivo garantir que um determinado produto (ou serviço) atende às normas técnicas vigentes para o mesmo.

Neste sentido, é mandatório que a empresa também cumpra requisitos estabelecidos pela certificação de interesse e estes podem estar relacionados a: pessoal, instalações, equipamentos, meio ambiente etc.

Todos os procedimentos, dados e informações devem ser registrados e documentados.

(Irei trabalhar melhor o conceito da certificação, aplicações e exemplos de certificação em um post futuro. Aguardem!)

 Neste contexto, o papel da tecnologia da informação para armazenamento e coleta de dados e informações ao longo de toda a cadeia produtora de alimentos é fundamental, pois garante o sucesso do sistema de monitoramento do setor agroalimentar.

Podemos citar como exemplos tecnológicos de monitoramento os códigos: de barras e QR e o RFID.

O quadro resumo abaixo apresenta as definições e exemplos sobre as tecnologias citadas.

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Estas ferramentas têm sido associadas a análises químicas, físicas e microbiológicas como meio de garantir os requisitos de segurança alimentar.

Ou seja, elas preservam dados de monitoramento de interesse para a empresa e permitem que apenas quem estiver autorizado acesse tais informações.

Além disto, estas ferramentas de gestão de informação vêm sendo utilizadas pela indústria de alimentos como apelo de marketing, para aproximar o consumidor de informações importantes a respeito da produção daquele alimento ou bebida.

O caso mais comum é com o uso e exploração do QRCode, em que é possível que o consumidor acesse dados importantes sobre o produto e/ou a empresa em questão.

Apesar de ser um importante passo para a segurança de todo o sistema, o Brasil ainda não possui um sistema nacional obrigatório de rastreabilidade regulamentado na Legislação vigente.

ANVISA e a Rastreabilidade

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pretende desenvolver uma atuação regulatória sobre o tema.

Apesar disto, algumas empresas do setor agroalimentar, sobretudo redes de supermercados, vêm desenvolvendo seus sistemas de rastreabilidade de um modo voluntário, ficando ao critério da rede disponibilizar (total ou parcialmente) ou não as informações ao consumidor.

De acordo com o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), cerca de 42,6% dos produtos embalados (processados ou não) apresentam informações de rastreabilidade voluntária, enquanto que apenas 0,06% dos alimentos a granel possuem tais informações.

Ao se comparar alimentos orgânicos com os convencionais, em 56,5% dos alimentos orgânicos observa-se a divulgação das informações de sua origem ao consumidor, contra apenas 28,7% dos alimentos convencionais.

Na Europa, por exemplo, o sistema de rastreabilidade é obrigatório e amparado em Legislação específica em que é obrigatório constar nas gôndolas a origem do alimento.

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O sistema de rastreabilidade amparado na Legislação europeia se baseia na documentação de todas as informações do produto ao longo de toda a cadeia e agentes envolvidos, o que se caracteriza pela metodologia “passo antes e passo depois”.

Ainda segundo o IDEC, um sistema de rastreabilidade que poderia ser adotado no Brasil é a disponibilização, nas gôndolas, das informações acerca do produto e variedade, sobre seu produtor e/ou centro distribuidor, endereço, data de produção, lote e se houve uso ou não de defensivos agrícolas (agrotóxicos).

O engajamento com a segurança alimentar é fator decisório para evitar contaminações e doenças transmitidas por alimentos impróprios ao consumo, uma vez que o monitoramento e aperfeiçoamento constante garantem a segurança de toda a cadeia do sistema agroalimentar local e global.

Colunista: Anna Flávia

Quer saber mais?

– Para quem quiser saber mais sobre a rastreabilidade no agronegócio, consulte: <http://agriculturasustentavel.org.br/artigos/rastreabilidade-o-futuro-do-agronegocio>. Acesso em 26/01/2017.

– Para os interessados nas ações do IDEC a respeito do sistema de rastreabilidade, consulte: <http://www.idec.org.br/especial/de-onde-vem>. Acesso em 26/01/2017.

– Para os interessados nos conceitos de rastreabilidade e segurança alimentar, consultar o Boletim Técnico elaborado pela Universidade Federal de Lavras (2012). O mesmo pode ser acessado por meio do link: <http://www.cidasc.sc.gov.br/defesasanitariaanimal/files/2012/08/RASTREABILIDADE_fabricio.pdf>. Acesso em 26/01/2017

 Referenciais teóricos que contribuíram com a construção desta postagem:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. O que é certificação e como obtê-la? Publicação eletrônica, 2014. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/certificacao/o-que-e>. Acesso em 26/01/2017.

INTERMEC TECHNOLOGIES CORPORATION. Como escolher a melhor tecnologia de captura de dados. Publicação em versão eletrônica. Disponível em: <http://www.intermec.com/public-files/white-papers/br/wphowto_br.pdf>. Acesso em 26/01/2017.

RFID  CENTER OF EXCELLENCE. O que é RFID. Publicação em versão eletrônica. Disponível em: <http://www.rfid-coe.com.br/_Portugues/OqueERFID.aspx>. Acesso em 26/01/2017.

 

 

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